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Os paraguaios têm uma longa história de sucesso no Flamengo. Além do técnico Manuel Fleitas Solich, o “Feiticeiro” mestre da tática e revelador de talentos por trás do tricampeonato carioca de 1953-54-55, alguns de seus compatriotas marcaram época em vermelho e preto, cada qual ao seu estilo. Modesto Bria, volante do tri anterior, nos anos 1940, tinha a disciplina tática como principal trunfo. Francisco Reyes, volante convertido em zagueiro dos anos 60 e 70, conciliava a garra com uma técnica fenomenal para a posição. Sinforiano García, por sua vez, era um goleiro arrojado, espetacular.

E houve ainda Jorge Benítez, ponta-de-lança que atuou pelo Fla entre 1952 e 1956 – brilhando especialmente nos três primeiros anos de sua passagem – e que se destacava pela raça, pelo ímpeto, pela valentia com que enfrentava os zagueiros e pelo faro de gols. Eternizado como o artilheiro do Campeonato Carioca de 1953, o que deu início ao histórico segundo tri, o atacante completaria 90 anos neste domingo.

O INÍCIO

Nascido na cidade de Yaguarón, localizada a 48 km de Assunção, em 23 de abril de 1927, Jorge Duílio Benítez Candía começou a bater bola dos sete para os oito anos de idade. Na infância e começo da adolescência, dividia com a bola o tempo para os estudos e também para as viagens à capital guarani com o pai, comerciante. Até decidir se dedicar exclusivamente ao futebol, iniciando a carreira no Deportivo de sua cidade natal, passando logo em seguida ao Nacional de Assunção. Aos 19 anos, logo depois de se profissionalizar, já integrava o elenco que conquistou o título paraguaio de 1946 – o sexto da história do clube e o último até 2009.

Em 1949, o Brasil sediaria o Campeonato Sul-Americano de seleções, antecessor da atual Copa América, pela primeira vez desde 1922 – ano em que também havia conquistado a competição pela última vez. Havia o interesse de utilizar a organização como um laboratório para a Copa do Mundo que seria realizada no país no ano seguinte. Diante da negativa da Argentina em participar do Sul-Americano e do envio pelos uruguaios de uma equipe experimental, havia também a expectativa de uma conquista brasileira de maneira fácil, sem sobressaltos.

BRILHANDO NA SELEÇÃO PARAGUAIA

Quando a bola começou a rolar, no entanto, uma equipe começou a chamar a atenção: o Paraguai dirigido por um nome que futuramente seria muito familiar aos ouvidos rubro-negros: um certo Manuel Fleitas Solich (aliás, também revelado pelo Nacional de Assunção). E além de Benítez, que tinha então sua primeira oportunidade como titular da meia-esquerda na ofensiva guarani, o time contava com outro nome que brilharia envergando o “CRF” no peito: o goleiro Sinforiano García.

Na estreia o Paraguai bateu a Colômbia por 3 a 0 no Pacaembu, com Benítez marcando o segundo gol. Quatro dias depois, passaria pelo Equador pelo placar mínimo em São Januário. No mesmo estádio, três dias depois, faria 3 a 1 nos peruanos. No dia 20 viria o primeiro revés: derrota por 2 a 1 para os uruguaios num jogo em que Benítez teve de ser substituído no intervalo. Mas ele voltaria a entrar em campo e marcar no jogo seguinte, um convincente 4 a 2 contra o Chile, outra equipe que se candidatava ao posto de surpresa do certame, uma semana depois no Pacaembu.

No sexto jogo da competição disputada em pontos corridos, Benítez faria história: em 30 de abril, jogando novamente em São Januário, os paraguaios goleariam os bolivianos por 7 a 0, e o atacante balançaria as redes quatro vezes, marcando o primeiro, o terceiro, o quarto e o sétimo gols e estabelecendo o recorde que perdura até hoje de jogador a marcar mais vezes pela Albiroja em um único jogo.

A tabela da última rodada marcava o confronto contra os brasileiros, donos da casa, outra vez em São Januário. Ao time de Flávio Costa bastava o empate para a conquista do título. E, a se julgar pelas exibições anteriores daquele escrete de Zizinho, Jair Rosa Pinto, Ademir de Menezes, Tesourinha e outros craques, havia a possibilidade até de vitória tranquila por goleada.

A confiança se confirmava aos 33 minutos quando Tesourinha finalmente conseguiu vencer García, cumprindo exibição magistral no gol paraguaio. O Brasil dominava as ações, mas esbarrava nos milagres do arqueiro guarani. Mas, para o espanto geral, Ávalos empatou aos 30 da etapa final. E a seis minutos do fim do jogo, Benítez recebeu de Arce, avançou com a bola, percebeu a saída de Barbosa e tocou por cobertura sobre o goleiro brasileiro, decretando a surpreendente virada paraguaia, silenciando São Januário.

A vitória dos guaranis por 2 a 1 obrigou a realização de um jogo extra contra o Brasil, que desta vez não perdoou e goleou por 7 a 0, confirmando o favoritismo e levantando a taça. Mas o desempenho dos paraguaios ao longo da competição encheu os olhos da crônica e dos grandes clubes sul-americanos. O Flamengo não demorou para trazer García. E embora o clube rubro-negro tenha se encantado também com Benítez, o ponta-de-lança era fortemente assediado pelo Boca Juniors.

NA ARGENTINA, ALTOS E BAIXOS NUM BOCA EM CRISE

No Boca Juniors de 1951, Benítez é o penúltimo agachado.

Para o jogador, a transferência para Buenos Aires representava um risco por dois motivos: primeiro porque, na época, transferir-se para uma equipe do exterior praticamente significava abrir mão de defender a seleção de seu país, mesmo que o clube em questão fosse de país vizinho. Além do mais, havia a chance iminente de disputar no ano seguinte a Copa do Mundo no Brasil.

O segundo motivo era a profunda crise técnica atravessada pelo Boca naquela temporada. O clube xeneíse vivia o pior momento de sua história e esteve seriamente ameaçado de rebaixamento, salvando-se por um ponto ao fim do campeonato. Por fim, Benítez acabaria aceitando a proposta, mesmo com uma cláusula no contrato pela qual se responsabilizava por jogar mesmo com os problemas cardíacos diagnosticados em seu exame médico. Estreou durante o torneio, no dia 3 de julho, disputou ao todo 11 partidas, marcando apenas um gol, curiosamente na vitória por 2 a 0 no clássico diante do River Plate.

No ano seguinte, embora o atacante ainda tivesse dificuldades para se firmar entre os titulares, para o clube as coisas melhoraram, terminando a liga na segunda colocação após três partidas desempate contra o Independiente (nas quais Benítez marcaria em duas). Mas o melhor desempenho do paraguaio viria na terceira temporada, a de 1951, quando terminou como o artilheiro boquense no Campeonato Argentino, anotando 12 gols em 22 partidas.

Naquele mesmo ano, Benítez voltaria ao Brasil para defender o Boca num amistoso contra o Flamengo no Maracanã, em 15 de novembro, como parte das comemorações do aniversário rubro-negro. Causaria boa impressão e marcaria um dos gols do time argentino no empate em 2 a 2. No começo de 1952, após disputar alguns amistosos pelo Boca na Bolívia, Chile e Paraguai, ganhou férias. Foi quando dirigentes do Flamengo, que já vinham observando o atacante, viajaram à Argentina para tentar contratá-lo.

 A CHEGADA AO FLAMENGO

Em princípio, o Boca relutava em liberá-lo. Considerava-o “intransferível”. Mas o cartola rubro-negro Chico Abreu conseguiu dobrar os dirigentes boquenses, acenando com 500 mil pesos em dinheiro (grande quantia para a época), mais a realização de um amistoso entre os dois clubes no Maracanã. Acordo fechado, Benítez desembarcaria no Rio em 27 de março de 1952, assinando contrato no dia seguinte na Gávea.

Benítez recebe o abraço do presidente Gilberto Cardoso nos vestiários.

E no dia 29 já estrearia pelo Rubro-Negro, na última partida do clube pelo Torneio Rio-São Paulo de 1952, contra o Palmeiras no Maracanã. O Fla não tinha mais nenhuma pretensão no campeonato e havia feito campanha fraca, em que pesaram os muitos desfalques por lesão e o time ainda em formação. E Benítez se apresentava fora de forma, devido a uma inatividade de cerca de 30 dias. Mesmo assim, conseguiu atrair grande público ao estádio e teve atuação destacada, marcando o gol da vitória por 2 a 1.

Depois de encerrada a participação no torneio, Benítez disputou pelo Flamengo alguns jogos no Nordeste e em seguida voltou a excursionar pela América do Sul, numa série de 11 partidas feitas pelo Fla no Peru, Colômbia e Equador, entre maio e julho. Nestes jogos, o novo reforço rubro-negro marcou expressivos nove gols, ajudando a consolidar a fama de artilheiro. Em agosto teria início o Campeonato Carioca. Se o Fla não era o favorito ao título, pelo menos já podia se credenciar a campanhas melhores do que as que havia feito no fim da década de 40.

Na estreia, marcou o gol da vitória de virada por 2 a 1 diante do Bonsucesso. Anotaria ainda nos triunfos contra o Botafogo, o Fluminense e o Bangu, além de balançar as redes quatro vezes na goleada de 9 a 0 sobre o São Cristóvão. Mas na derrota para o Vasco por 1 a 0 no returno, sofreu estiramento após levar uma entrada dura do truculento zagueiro cruzmaltino Eli do Amparo e foi afastado do restante do campeonato. Encerrou sua participação naquele Carioca de 1952 com a boa soma de 12 gols em 14 jogos, quatro a menos que o artilheiro do time, o centroavante Adãozinho.

A lesão deixou Benítez – goleador do Fla naquela temporada corrida, com 27 gols em 32 jogos – fora de ação por vários meses. Sem ele, o Fla ainda conseguiu bons resultados e terminou o Carioca na segunda colocação, empatado com o Fluminense, mas distante do campeão Vasco. Apesar de já contar com boa parte da equipe que se tornaria hegemônica no futebol carioca pelo triênio seguinte, ainda faltava algo.

Na virada do ano, antes mesmo do fim do Carioca, o técnico Flávio Costa deixou o clube, recebendo proposta para voltar ao Vasco. Enquanto o ex-capitão rubro-negro Jayme de Almeida tomava conta do time interinamente, o presidente Gilberto Cardoso ia a Lima, capital peruana, contratar um velho conhecido de Benítez: o treinador Manuel Fleitas Solich, que havia acabado de levar a seleção paraguaia ao tão esperado – e ainda assim surpreendente – título sul-americano derrotando duas vezes o Brasil. Para o mandatário rubro-negro, Don Fleitas era o nome ideal para pôr em prática a revolução na equipe do Flamengo.

ARTILHEIRO DO CARIOCA

Benítez era nome de confiança para o treinador para seu ataque ideal no Flamengo. Voltou aos poucos, conforme recuperava-se da lesão, durante o Torneio Rio-São Paulo. E no Carioca, iniciado a 12 de julho, já estava de novo pronto para retornar ao time titular. No começo, mesmo marcando nas vitórias sobre o Madureira e o Olaria, recebeu críticas da imprensa. Diziam os jornais que ele não parecia adaptado ao estilo de jogo rubro-negro e destoava na linha de frente.

Somente na quarta rodada, quando o paraguaio anotou todos os gols na vitória por 4 a 0 diante do Bonsucesso, é que as críticas começaram a silenciar e todos começaram a entender como suas qualidades podiam se encaixar naquele ataque. Benítez era um jogador valente, raçudo, sem medo de beques violentos e muito oportunista. E tinha uma jogada mortal: a infiltração rápida na defesa adversária no espaço criado pelo recuo do centroavante (Índio ou às vezes Evaristo). Em outras palavras, era o típico ponta-de-lança.

Benítez, o 10 rubro-negro, em disputa aérea contra a zaga do São Cristóvão em Figueira de Melo

Somando tais características aos dribles de Joel, ao futebol filigranado de Rubens, à inteligência de Índio e à experiência e regularidade de Esquerdinha, os rubro-negros tinham uma linha formada por jogadores complementares, levando a máquina de Solich a funcionar a todo vapor.

Após um período de baixa na metade final do primeiro turno (quando marcou apenas uma vez em sete jogos), Benítez voltou à sua rotina de goleador, marcando em praticamente todos os jogos dali até o fim da campanha. Terminou a fase inicial do campeonato – a de pontos corridos em turno e returno – com 17 gols, vários deles cruciais para a conquista desta etapa pelo Flamengo, como o da vitória apertada sobre o Canto do Rio por 2 a 1. Os rubro-negros já estavam garantidos numa eventual decisão do campeonato, enfrentando o vencedor do turno extra, disputado entre os seis melhores times da fase anterior.

Havia, porém, um rival de peso na briga pela artilharia do campeonato: o ponta-direita Garrincha, revelação botafoguense, que já havia marcado 20 na soma dos turnos. O time alvinegro terminara a primeira fase na segunda colocação, um ponto atrás do Fla, e contava com seu camisa 7 para desequilibrar na disputa pelo título. Mas quem desequilibrou foi Benítez.

No primeiro jogo do Fla no terceiro turno, o paraguaio teve exibição memorável de raça, inteligência e dedicação pelos 90 minutos, e abriu o caminho para a vitória por 2 a 1 sobre o Fluminense, marcando logo aos 14 minutos: Joel centrou a bola sobre a área, Índio saltou com Castilho e Pinheiro, e a bola sobrou para Benítez bater de virada.

Cabeceando sob os olhares do zagueiro Joel, do America.

No jogo seguinte, contra o America, outra vez Benitez foi crucial para a vitória, participando do primeiro gol e marcando o segundo: no que abriu a contagem, vindo quando o Fla começava a reverter o domínio americano a etapa inicial, o atacante escorou de cabeça um cruzamento de Índio, e a bola resvalou no meia americano João Carlos antes de vencer o goleiro Osni. No segundo, já na etapa final, Rubens fez grande jogada individual e serviu na corrida para o paraguaio tocar na saída do arqueiro rubro, definindo o placar.

Veio o terceiro jogo do hexagonal, contra o Bangu, e lá estava Benítez sendo decisivo, abrindo o marcador logo aos oito minutos, numa jogada rápida e incisiva, bem a seu feitio – e ao do Flamengo de Solich: Rubens passou a Joel e este lançou o paraguaio na corrida. A vitória por 2 a 0 deixou o Flamengo com a mão na taça por antecipação, na condição de vencedor de todas as etapas do campeonato. Para isso, bastava vencer o Vasco no jogo do dia 10 de janeiro, no Maracanã.

E Benítez, assim como toda a equipe rubro-negra, mais uma vez brilhou. O avante paraguaio participou de todos os gols do Fla na inapelável goleada de 4 a 1. Aos 12 minutos, fez jogada de triangulação com Índio e Esquerdinha, antes de o ponteiro abrir o placar com um chute forte. Aos 32, ganhou na raça a jogada do zagueiro vascaíno Haroldo e fez a assistência para Índio marcar o segundo. No último minuto da etapa inicial, cravou o terceiro gol, num chute da intermediária que surpreendeu Osvaldo Baliza. Na etapa final, depois de Ademir descontar, o próprio Benítez jogava a pá de cal sobre as pretensões cruzmaltinas, recebendo desmarcado um passe de Índio e chutando forte para fechar a goleada, aos 44 minutos, e selar a conquista do título carioca que encerrava um jejum de nove anos.

A arrancada goleadora no turno final, além de decisiva para o título rubro-negro, fez Benítez ultrapassar Garrincha na corrida pela artilharia – sem os gols do ponteiro, o Botafogo não venceu uma partida sequer na fase – terminando a competição com 22 tentos. Havia sido também um dos três únicos jogadores rubro-negros (ao lado de Dequinha e Jordan) a participar integralmente da campanha vitoriosa. Seria ainda o primeiro jogador estrangeiro não britânico a se sagrar o artilheiro do Carioca na história (feito mais tarde igualado pelo argentino Doval).

O time campeão de 1953. Em pé: Garcia, Servílio, Pavão, Marinho, Dequinha e Jordan. Agachados: Joel, Rubens, Índio, Benítez e Esquerdinha.

OS ÚLTIMOS MOMENTOS COMO TITULAR

Em abril, o Flamengo partiria em excursão europeia, jogando na Itália, Alemanha Ocidental, Hungria e Áustria. Benítez participaria de apenas metade dela, por ter se lesionado no oitavo jogo, contra um combinado da região de Ludwigshafen. Mas se destacaria em vários dos jogos em que esteve em campo. A começar pela estreia, no estádio San Siro de Milão, contra um combinado formado por jogadores de Milan e Internazionale que incluía os astros estrangeiros dessas equipes, como os suecos Nordhal e Skoglund e o húngaro Istvan Nyers. No empate em 2 a 2, Benítez marcou ambos os gols rubro-negros.

Outras grandes atuações viriam na goleada sobre o húngaro Kiniszi (mais tarde renomeado Ferencváros) por 5 a 0 em Budapeste, no empate em 2 a 2 com o fortíssimo Rapid Viena (superando a violência dos austríacos e a arbitragem caseira) e a outra igualdade pelo mesmo placar diante do Stuttgart alemão. Em cada um destes três jogos, o ponta-de-lança paraguaio também balançou as redes duas vezes.

Mas a lesão sofrida na Alemanha o tirou da equipe por cerca de dois meses, e mais uma vez o atacante só participou das últimas rodadas do Torneio Rio-São Paulo. No Campeonato Carioca, mesmo chegando para a disputa com o cartaz de goleador da edição anterior, teve que enfrentar uma nova realidade no Flamengo: alguns grandes jogadores vinham em ascensão e pediam passagem na equipe.

Um deles era Evaristo, jogador de grande técnica e inteligência e que podia atuar em praticamente todas as posições do ataque. Outro era um mirrado garoto alagoano que seria seu substituto no time titular quando o paraguaio se lesionou na semana do clássico diante do Vasco pelo primeiro turno, em 17 de outubro: um certo Dida. A lesão tirou Benítez de ação até a virada do ano, retornando apenas na oitava rodada do returno, num empate em 1 a 1 com o America. Para mostrar que estava vivo na briga por um lugar no time, o paraguaio marcou o gol rubro-negro no jogo.

O ponta-de-lança conseguiria se manter entre os titulares dali até o fim do torneio. Voltaria a marcar contra o America na vitória por 3 a 2 no terceiro turno e depois contra o Bangu, na goleada de 5 a 1 na última rodada, quando o Fla já recebia as faixas de bicampeão. Foi o jogador que atuou mais vezes em sua posição (15 jogos), mas no cômputo geral de partidas, ficou atrás de Evaristo, que teve suas 20 atuações distribuídas entre a meia-direita, o comando do ataque, a ponta-de-lança e até a ponta-esquerda. Mesmo não sendo mais titular absoluto, o paraguaio contribuiu com uma satisfatória e importante cota de gols, nove ao todo, sendo três na complicada partida de estreia, 4 a 3 sobre o Canto do Rio.

Benítez posa com o vascaíno Pinga antes do duelo decisivo de 1954 para a capa da revista Esporte Ilustrado.

Após o jogo contra o Bangu, em 27 de fevereiro de 1955, Benítez ficaria mais de um ano afastado da equipe, retornando apenas no jogo das faixas do tricampeonato carioca, contra o Internacional no Maracanã, em 15 de abril de 1956. Além de sofrer com as constantes lesões, vinha sendo preterido dentro do elenco pelo técnico Fleitas Solich, que passou a apostar mais em Evaristo e Dida para a posição. Assim, o atacante paraguaio não disputou uma partida sequer da campanha do terceiro título consecutivo. Jogaria apenas mais um punhado de amistosos e deixaria o clube em junho de 1956, negociado com o Náutico, encerrando sua passagem pela Gávea com a expressiva marca de 76 gols em 114 partidas.

Depois de duas boas temporadas em Pernambuco, retornaria à Argentina defendendo o Almagro e o Deportivo Morón, encerrando a carreira – aparentemente, segundo os registros – em 1960, aos 33 anos. Além das atuações marcantes pela raça e impetuosidade defendendo o Flamengo, Benítez deixou marcas importantes em sua passagem pelo clube, entre elas a de ser até meados dos anos 70 o maior goleador estrangeiro da história rubro-negra, sendo superado por Doval somente no último ano do ídolo argentino na Gávea. Ainda hoje o paraguaio se mantém firme na segunda colocação, à frente de outros gringos com muitos gols pelo Fla, como Valido e Petkovic (ambos, é bom lembrar, com bem mais partidas disputadas que ele).