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Ápice da história rubro-negra, a conquista do Mundial Interclubes com vitória categórica sobre o Liverpool por 3 a 0 em Tóquio completou 40 anos na última segunda-feira. Muito já se contou, em diversas mídias (livros, vídeos etc), sobre a construção daquele elenco e sua caminhada até o título máximo. Mas nossa proposta aqui é fazer o oposto – aproveitando, aliás, a discussão sobre fins de ciclo de jogadores da geração atual, também muito vitoriosa: relembramos nesse texto, em ordem cronológica, as idas e vindas dos 11 nomes daquela escalação mágica após o título histórico no Japão. Até o dia em que o último deles entrou em campo vestindo o Manto.

Preparados? Podemos embarcar…

13 de dezembro de 1981 – Jogando com Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Junior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico, o Flamengo derrota de maneira inapelável o Liverpool por 3 a 0 e conquista o Mundial Interclubes em Tóquio. Do outro lado do mundo, o Fla alcança o topo do mundo – ao qual, até ali, só o Santos de Pelé havia chegado entre os clubes brasileiros.

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25 de abril de 1982 – Com gol de Nunes logo no início da partida, o Flamengo derrota o Grêmio por 1 a 0 no Estádio Olímpico, em Porto Alegre e é campeão brasileiro pela segunda vez. Naquela altura, os rubro-negros haviam “unificado os cinturões”: eram os detentores do título de todas as principais competições que disputaram, da Taça Guanabara ao Mundial Interclubes, passando pelo Estadual do Rio, Brasileiro e Libertadores.

No mesmo dia sai a lista dos 22 convocados da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1982, incluindo os rubro-negros Leandro, Junior e Zico. Adílio e Vítor, que haviam sido chamados pelo técnico Telê Santana no começo daquele ano, ficam de fora, assim como Raul e Nunes, que haviam participado do começo do ciclo do treinador à frente do escrete canarinho, e Tita, que havia sido nome certo no time das Eliminatórias, mas pediu para não ser mais convocado para atuar como ponta-direita.

Segundo semestre de 1982 – Com o elenco reforçado pelos ponteiros Wilsinho (ex-Vasco) e Zezé (ex-Fluminense e Guarani), o Fla parte como favorito destacado ao título estadual e conquista, em 23 de setembro, a Taça Guanabara pelo quinto ano consecutivo. Daí em diante, porém, as coisas começam a desandar, com o desgaste físico provocado pela disputa simultânea da Taça Rio e da Libertadores. Raul, por exemplo, fica de fora por cerca de quatro meses devido a uma necessária cirurgia na coluna.

16 de novembro de 1982 – A derrota amarga para o Peñarol por 1 a 0 dentro do Maracanã pelo triangular semifinal da Libertadores põe fim ao sonho do bicampeonato continental (e mundial). Enquanto isso, na Taça Rio, uma campanha irregular tira as chances de título – que representaria a conquista do Estadual sem precisar de finais – com várias rodadas de antecedência. Haverá um triangular decisivo pela frente.

5 de dezembro de 1982 – Para completar o anticlímax, a temporada que havia começado tão bem termina de maneira melancólica, com a derrota para o Vasco por 1 a 0, gol de Marquinho, e a perda do título estadual.

20 de dezembro de 1982 – Após passar duas semanas internado, o supervisor Domingo Bosco morre aos 51 anos vitimado por uma trombose cerebral. Figura fundamental naquela estrutura rubro-negra, era um paizão para os atletas, intermediando a relação entre eles e a diretoria, além de cuidar dos mínimos detalhes na concentração e de funcionar como “relações públicas”, atendendo à imprensa e promovendo os jogos. Era insubstituível. Após seu falecimento, atritos internos começam a vir à tona.

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17 de janeiro de 1983 – O Flamengo acerta com o Grêmio a troca por empréstimo de Tita pelo centroavante Baltazar. Um dos que mais se indispunham com o técnico Paulo César Carpegiani, o ponta deixa a Gávea contrariado. Três dias depois, é anunciada outra troca (esta, com o Fluminense e em definitivo): a do ponta Wilsinho, que não se ambientou no clube, por Robertinho, que chega como um dos principais reforços para o Brasileiro.

Fevereiro de 1983 – No fim do mês, Nunes também deixa o clube, emprestado ao Botafogo com o Brasileiro em andamento. Outro jogador incompatibilizado com Carpegiani (e encostado após a chegada de Baltazar), o atacante também foi sondado por Palmeiras, Ponte Preta, New York Cosmos e Millionarios de Bogotá, antes de assinar com o rival.

Março de 1983 – O time perde primeiro Andrade e mais tarde Lico por problemas de joelho até o fim do Brasileiro. Mas o fato mais impactante do mês é a saída do técnico Carpegiani após 20 meses no comando da equipe. Hostilizado pela torcida na vitória de 2 a 0 sobre o Tiradentes-PI no Maracanã pelo Brasileiro no dia 23, o treinador acerta sua saída no dia seguinte e logo assina contrato com os árabes do Al-Nassr.

17 de abril de 1983 – Após passagens rápidas do antigo ídolo Carlinhos e do preparador físico Cléber Camerino pelo comando do time, o Flamengo estreia novo técnico: Carlos Alberto Torres. E começa bem: rejuvenescido, o time goleia o Corinthians de Sócrates por 5 a 1 no Maracanã em exibição memorável e dá a entender que renasceu no Brasileiro – no qual vinha sendo descartado até mesmo para avançar às quartas de final.

29 de maio de 1983 – Diante do público recorde de 155.253 pagantes, o Flamengo atropela o Santos por 3 a 0 no Maracanã e conquista seu terceiro título brasileiro. A equipe, no entanto, já é sensivelmente diferente da de Tóquio: apenas seis titulares repetidos (Raul, Leandro, Marinho, Junior, Adílio e Zico), já que Mozer se somara às baixas ao sofrer afundamento no malar na partida de ida no Morumbi. O zagueiro Figueiredo, o volante Vítor, os meias Élder e Julio César Barbosa e o centroavante Baltazar completam o time.

2 de junho de 1983 – Como diz a máxima, “o flamenguista não tem um dia de paz”. Ainda em plena comemoração da conquista do Brasileirão, o torcedor rubro-negro recebe uma bomba menos de uma semana depois: o clube anuncia a venda de Zico à Udinese por Cr$ 2 bilhões. Um dos episódios mais traumáticos da história do clube (que rendeu até música do cantor, compositor e rubro-negro fanático Moraes Moreira), a saída do Galinho para a Itália também foi marcada pela sequência de fotos em que o presidente do Flamengo, Antônio Augusto Dunshee de Abranches, simula enxugar suas lágrimas de pesar numa camisa 10 rubro-negra e, logo em seguida, é flagrado sorrindo de orelha a orelha. As imagens estamparam a primeira página do jornal O Globo.

3 e 5 de junho de 1983 – Em um Maracanã às moscas, um Flamengo já sem possibilidades de se classificar faz suas duas últimas partidas pela primeira fase da Libertadores: no primeiro dia, goleia por 5 a 2 o Bolívar diante de apenas 1.629 torcedores. Já no segundo, com um pouco mais de gente (6.415 pagantes), é batido com facilidade por 3 a 1 pelo Grêmio de Tita – que abre o placar logo aos oito minutos.

22 de junho de 1983 – Jogando mais sal na ferida, o Flamengo tem – pela primeira e única vez na história – Zico no papel de adversário, ainda que só por alguns minutos, num amistoso contra a Udinese no estádio Friuli, em Údine. Na vitória italiana por 4 a 2, o Galinho entra em campo aos 40 minutos da etapa inicial, só para ser apresentado à torcida local, e é substituído no intervalo.

2 de julho de 1983 – Na primeira competição que disputa sem Zico desde o início, o Fla termina como vice-campeão do Mundialito de Clubes em Milão, na Itália. Depois de bater a Internazionale por 2 a 1 na estreia, sofrer para empatar em 1 a 1 com o Milan no jogo seguinte e se vingar do Peñarol – algoz na Libertadores do ano anterior – com uma brilhante vitória por 2 a 0, o time de Carlos Alberto Torres precisa apenas do empate diante da Juventus de Platini, Boniek e Paolo Rossi, mas perde por 2 a 1, roubado na mão grande pelo árbitro local Enzo Barbaresco: além de marcar uma falta inexistente que originaria o primeiro gol italiano, anotado por Platini, e de validar o segundo, feito em impedimento claro por Boniek, ainda ignorou um pênalti escandaloso de Giuseppe Furino em Junior, em que o rubro-negro foi agarrado pela camisa e pelo pescoço dentro da área perto do fim do jogo.

14 de agosto de 1983 – O bom momento inicial sob o comando de Carlos Alberto Torres já se esvaiu por completo: a sequência de atuações ruins na Taça Guanabara é castigada com uma pesada derrota de 3 a 0 para o Botafogo de Nunes, resultado que não apenas leva à demissão do treinador como também à renúncia do presidente Dunshee de Abranches ainda nos vestiários do Maracanã. A crise é profunda – e vai piorar.

7 de setembro de 1983 – Apesar do feriado, pouco mais de 5 mil torcedores vão ao Maracanã para ver o Flamengo ser surrado pelo Bangu por 6 a 2. O time é comandado interinamente pelo preparador físico José Roberto Francalacci, que retornava ao clube após ter saído no fim de 1982, também por se indispor com Carpegiani. A goleada acaba marcando a passagem do jovem goleiro Abelha pelo Fla, que o contratara após suas atuações destacadas no gol da Ferroviária-SP no Brasileirão. Além disso, a péssima campanha até ali no Estadual – naquele tempo, classificatório para o Brasileiro – provoca o temor de que o Fla possa ficar de fora da elite nacional em 1984.

Segunda quinzena de setembro de 1983 – Acuado e assustado, o Flamengo decide agir: desfaz a troca com o Grêmio e chama Tita – que acabara de conduzir o tricolor gaúcho a seu primeiro título da Libertadores – de volta para vestir a 10 de Zico. Tira do Fluminense o técnico Cláudio Garcia, que acabara de levar o rival ao título da Taça Guanabara. E, com o dinheiro da venda de Zico, vai às compras: traz o meia Cléo (Palmeiras), o ponta Lúcio (Guarani), os centroavantes Edmar (Cruzeiro) e Cláudio Adão (Benfica, em sua segunda passagem pelo clube), além dos jovens Heitor (lateral-direito da Ponte Preta) e Guto (zagueiro do XV de Jaú), ambos campeões mundiais com a Seleção Brasileira sub-20 meses antes.

Dezembro de 1983 – O novo Flamengo engrena e leva a Taça Rio em jogo extra contra o Bangu. Mas perde o título estadual no detalhe: logo em seu primeiro jogo no triangular decisivo é batido pelo Fluminense por 1 a 0, gol de Assis no último minuto, num lance que nasceu de impedimento mal marcado de Adílio, sendo alijado da disputa. De qualquer forma, com a confiança e a boa fase de seus principais jogadores recuperadas, o time parte para a próxima temporada de novo como forte candidato a levantar Brasileiro e Libertadores.

No dia 20, Raul faz seu jogo de despedida dos gramados aos 39 anos. Mas o Fla já tem um goleiro de renome internacional para ocupar seu lugar: o argentino Ubaldo Fillol, campeão mundial pela seleção de seu país em 1978, trazido do Argentinos Juniors.

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Janeiro de 1984 – Além de Fillol, a grande novidade para a temporada é o ponta-esquerda João Paulo, sonho antigo do clube contratado a peso de ouro do Santos (Cr$ 350 milhões, mais o passe do volante Lino, que já estava na Vila Belmiro por empréstimo). Além disso, há o retorno de Nunes após o fim de seu período cedido ao Botafogo.

19 de abril de 1984 – Sem espaço com Cláudio Garcia, o zagueiro Marinho e o volante Vítor são negociados com o Atlético-MG. O defensor saiu em definitivo, enquanto o meia foi trocado por empréstimo pelo jovem atacante Marcus Vinícius, de 20 anos, até o fim daquela temporada. Pouco tempo antes, a dupla rubro-negra esteve perto de seguir para o Internacional junto com Nunes, numa troca que traria para a Gávea o zagueiro Mauro Galvão e o ponta-esquerda Mário Sérgio (revelado pelo Fla em 1970), mas que acabou não indo adiante.

20 de abril de 1984 – O Flamengo faz talvez sua melhor exibição durante o período em que Zico esteve no futebol italiano ao humilhar o Santos por 5 a 0 dentro do Morumbi pela primeira fase da Libertadores. Apesar de um tropeço aqui e uma atuação irregular ali, o Fla de Cláudio Garcia segue como favorito ao título brasileiro e forte candidato ao da competição sul-americana, já que vem cumprindo nela campanha superior até mesmo à de 1981.

Maio de 1984 – Considerada surpreendente, a queda nas quartas de final do Brasileiro diante do Corinthians (quando o Flamengo jogou fora uma vantagem de 2 a 0 construída no jogo de ida no Maracanã ao ser goleado por 4 a 1 no Morumbi na volta, no dia 6) provoca novas turbulências. Cláudio Garcia coloca o cargo à disposição, mas acaba deixando o clube somente mais para o fim do mês. Enquanto isso, o caldeirão político da Gávea se agita. Menos mal que o time se classificou com certa folga para a fase semifinal da Libertadores.

29 de maio de 1984 – Depois de sondar Mário Travaglini e Jorge Vieira, o Flamengo apresenta Zagallo como novo treinador. O Velho Lobo retorna ao clube após mais de uma década.

15 de junho de 1984 – Outra transferência que teria impacto profundo no clube: cobiçado por vários clubes da poderosa Serie A italiana, Junior é vendido ao Torino por fabulosos Cr$ 1,8 bilhão, encerrando sua primeira passagem pelo time principal do Fla quase uma década após estrear, em novembro de 1974.

No mesmo dia, chega à Gávea o lateral Jorginho, do America, mais um campeão mundial sub-20 com a Seleção Brasileira no ano anterior. Inicialmente trazido para o lugar do Capacete, acaba remanejado à lateral-direita, já que o garoto Adalberto – da base rubro-negra e outro daquela seleção de juniores – pede passagem pelo lado esquerdo. Há, porém, um detalhe: com as inscrições para a Libertadores encerradas, o novo reforço fica de fora da competição continental.

19 de julho de 1984 – Mais uma vez o sonho da reconquista da América é encerrado: o empate em 0 a 0 com o Grêmio após tempo normal e prorrogação no campo neutro do Pacaembu deixa o Flamengo de fora da decisão do torneio pelo saldo de gols e classifica os gaúchos, que tentarão o bicampeonato contra o Independiente argentino.

28 de julho de 1984 – Na goleada de 4 a 0 sobre o Olaria pela Taça Guanabara, Lico entra em campo pela última vez com a camisa rubro-negra ao substituir Bebeto durante a partida. Embora permaneça no elenco até o começo do ano seguinte, o catarinense não chegará a atuar de novo e pendurará as chuteiras aos 33 anos.

4 de setembro de 1984 – Contratação mais cara da temporada, João Paulo não chega nem mesmo a terminar o ano na Gávea, sendo vendido ao Corinthians por Cr$ 500 milhões. O ponta-esquerda não brilhou em nenhum momento e estava na reserva de Adílio.

23 de setembro de 1984 – Depois de ter suas chances de título descartadas na metade do turno, o Flamengo conquista a Taça Guanabara ao vencer o Fluminense por 1 a 0 na última rodada. O time de Zagallo entra em campo no Maracanã com a escalação básica daquele segundo semestre: Fillol; Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Élder e Tita; Bebeto, Nunes e Adílio – o autor do gol decisivo. São seis os remanescentes da equipe que pulverizou o Liverpool em Tóquio pouco menos de três anos antes.

23 de novembro de 1984 – Tita chuta um pênalti na trave e o Flamengo só empata com o Campo Grande em 1 a 1 no Maracanã pela penúltima rodada da Taça Rio. Se tivesse vencido, o Fla alijaria o Fluminense da disputa do título estadual. Na rodada seguinte, enquanto o Vasco derrotaria o America e confirmaria a conquista do turno, os tricolores venceriam o Fla-Flu e avançariam ao triangular decisivo pelo critério do índice técnico (maior soma de pontos nos dois turnos). Antes quase eliminado, o Flu levaria o bicampeonato estadual.

18 de dezembro de 1984 – Terminado o Estadual, o Flamengo já acerta seu primeiro reforço para a temporada 1985: o jovem centroavante Chiquinho, 21 anos, artilheiro do Campeonato Paulista pelo Botafogo de Ribeirão Preto com 16 gols, ao lado do santista Serginho – sinal de que os dias de Nunes na Gávea estão mais uma vez contados.

20 de dezembro de 1984 – Um desastre aéreo com um monomotor no Pico da Caledônia, em Nova Friburgo, mata o zagueiro Figueiredo, que completaria 24 anos de idade dali a alguns dias. A aeronave, que viajava para a Bahia e levava outras três pessoas (entre elas Niltinho, irmão de Bebeto), só foi localizada no dia seguinte, com o resgate dos corpos demorando mais um dia. O defensor nascido em São Paulo e revelado na base rubro-negra havia ficado no banco na final de Tóquio, sendo titular nas decisões dos Brasileiros de 1982 e 1983. E no último jogo de sua vida, o Fla-Flu da Taça Rio, havia – por uma incrível coincidência – entrado em campo vestindo a camisa 10 rubro-negra.

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Janeiro de 1985 – A movimentação de mercado é intensa: após retornar do empréstimo ao Atlético-MG, Vítor é trocado pelo ponta-esquerda Marquinho com o Vasco no dia 11. No mesmo dia, o Flamengo vende Edmar ao Guarani por Cr$ 200 milhões. Já no dia 19, é anunciada a saída de Nunes, envolvido numa troca com o Náutico que também leva para os Aflitos o lateral-direito Heitor e traz para a Gávea o ponta-direita Heyder – que chega como opção depois das tentativas frustradas de contratar o banguense Marinho e o palmeirense Jorginho. O último reforço vem no dia 22: o zagueiro Ronaldo, trazido por empréstimo do Americano.

Por outro lado, as renovações de Fillol e Tita estão atravancadas e ambos receberam propostas para deixar a Gávea – o Grêmio chegou a anunciar que ofereceria mais de Cr$ 1 bilhão para ter o ponta em definitivo. O goleiro voltaria ao time em março para o segundo turno da primeira fase do Brasileiro. Já Tita ficaria de fora de toda a primeira fase do torneio, retornando ao time só na segunda metade de abril.

24 de março de 1985 – Assim como em 1981, o Flamengo volta a dar de seis no Botafogo. Desta vez por 6 a 1 em jogo pelo segundo turno da primeira fase do Brasileirão. Significativamente, no entanto, apenas três jogadores que atuaram na outra goleada também estão presentes neste novo chocolate: Mozer, Andrade e Adílio.

Meados de abril ao fim de junho de 1985 – O Brasileiro é paralisado para os jogos da Seleção, dirigida inicialmente por Evaristo de Macedo e depois por Telê Santana. Na primeira leva de convocados, com Evaristo, estão os rubro-negros Mozer e Bebeto. Na segunda, com Telê, para a disputa das Eliminatórias da Copa do Mundo, o número de jogadores do Fla aumenta para quatro com as inclusões de Leandro e Andrade. Além disso, também fazem parte do novo grupo os ex-rubro-negros Junior e Zico – este, envolvido em crescentes rumores sobre sua volta à Gávea ainda naquele meio de ano.

Enquanto isso, o Flamengo excursiona pelo Brasil e exterior. E nos dias 21 e 23 de junho, com um time repleto de garotos (entre eles Aílton e Aldair), disputa no México um quadrangular chamado Torneio Rosa de Ouro, enfrentando Universidad Guadalajara e Cruz Azul. Nos dois jogos, um detalhe salta aos olhos: pela primeira vez após a conquista do Mundial o Fla entra em campo sem nenhum dos titulares de Tóquio. Cantarele, reserva no Japão, é o titular na primeira partida, cedendo o posto ao jovem Zé Carlos na segunda.

5 de julho de 1985 – Com um filme promocional exibido pela TV Manchete, o Flamengo anuncia oficialmente a notícia que todo rubro-negro gostaria de receber naquele momento: Zico está de volta, após um longo período de negociações e especulações.

21 de julho de 1985 – Nem mesmo o retorno do Galinho, no entanto, evita a vexatória eliminação do Flamengo no Brasileiro: precisando vencer o Ceará no Maracanã e torcer por uma derrota do Brasil de Pelotas diante do Bahia na Fonte Nova, o time vê acontecer tudo ao contrário: abre dois gols de vantagem, mas cede o empate ao Vozão enquanto, em Salvador, os gaúchos vencem o tricolor baiano por 3 a 2, avançando às semifinais.

Agosto de 1985 – As turbulências seguem ao longo do mês. Logo no dia 2, Zagallo entrega o cargo após ser criticado por dirigentes insatisfeitos com a derrota num amistoso em Santa Catarina. Depois de ouvir a negativa de Ênio Andrade (que acabara de levar o Coritiba ao título brasileiro) e de ver Edu, irmão de Zico, recuar em aceitar o cargo um dia após ser recebido pela diretoria (os muros da Gávea foram pichados contra sua contratação), o Fla recorre a um velho conhecido: o ex-lateral e treinador da base rubro-negra Jouber Meira, apresentado oficialmente como novo técnico no dia 8. Na véspera, o clube havia anunciado a venda de Fillol ao Atlético de Madrid por Cr$ 820 milhões.

Já no dia 29, no jogo entre Flamengo e Bangu pela segunda rodada da Taça Guanabara, Zico sofre entrada desleal do lateral banguense Márcio Nunes e tem a continuidade de sua carreira como jogador de futebol colocada em sério risco.

13 de setembro de 1985 – Enquanto Zico se recupera, a torcida rubro-negra recepciona um novo ídolo: o meia Sócrates, cuja contratação junto à Fiorentina havia sido fechada três dias antes. O novo reforço, porém, ainda tem um longo caminho até recobrar a forma física e só estreará pelo Flamengo no começo da temporada seguinte.

15 de setembro de 1985 – Uns chegam, outros saem: um insatisfeito Tita faz seu último jogo pelo Flamengo na derrota por 1 a 0 para a Portuguesa na Ilha do Governador pela Taça Guanabara, cinco dias após a confirmação de sua venda ao Internacional.

10 de outubro de 1985 – A goleada de 4 a 0 sofrida no clássico diante do Vasco encerra o ciclo do técnico Jouber à frente do time após cerca de um mês e meio. O preparador físico Sebastião Lazaroni, que já havia comandado o time interinamente após a saída de Zagallo, é efetivado no cargo de treinador pelo menos até o fim daquela temporada.

Dezembro de 1985 – Exatamente o mesmo script: assim como dois anos antes, o Flamengo reage na Taça Rio e conquista o título do turno em jogo extra contra o Bangu, vencido por 1 a 0 com gol de Adílio, mas no fim assiste ao Fluminense levantar o título (tri) estadual num triangular decisivo que também incluiu os banguenses.

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16 de fevereiro de 1986 – Contando integralmente com o time que imaginava ser o titular para aquela temporada, o Flamengo estreia no Estadual goleando o tricampeão Fluminense por 4 a 1 com atuação magistral de Zico, autor de três gols. Bebeto completa o marcador. Os rubro-negros do técnico Sebastião Lazaroni entram em campo com Cantarele; Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Sócrates e Zico; Bebeto, Chiquinho e Adílio. Aquela é a única partida oficial de competição e a única no Maracanã em que Zico e Sócrates atuam juntos pelo Flamengo.

Primeiro semestre de 1986 – Em ano de Copa do Mundo, o Fla se vê sensivelmente desfalcado pela longa etapa de preparação da Seleção de Telê Santana visando ao Mundial do México. No dia seguinte ao Fla-Flu que abriu o Estadual, os quatro rubro-negros convocados (Leandro, Mozer, Sócrates e Zico) se apresentam aos treinos do escrete canarinho na Toca da Raposa. Menos mal que outros três jogadores considerados selecionáveis – Andrade, Adílio e Bebeto – acabaram fora da lista, sem prejuízos maiores ao clube.

Adílio, porém, viverá sua temporada mais complicada no clube: pela primeira vez enfrentando lesões sérias, fica ausente de metade das partidas do Estadual devido a uma entorse no joelho esquerdo. Mais adiante, no fim de agosto, uma grave lesão nos meniscos sofrida num amistoso na Espanha o levará à mesa de cirurgia, tirando-o dos gramados pelo resto do ano.

10 de agosto de 1986 – O Flamengo vence o Vasco por 2 a 0 na terceira partida da melhor de três decisiva e conquista o Estadual pondo fim a um jejum de cinco anos. É uma conquista marcada pela raça e o talento dos garotos, que não sentem o peso de substituírem os veteranos. A equipe da final tem Zé Carlos; Jorginho, Leandro, Guto e Aldair; Andrade, Aílton e Adílio; Bebeto, Vinícius e Marquinho. Os gols são de Bebeto e Marquinho.

Os medalhões têm participação pequena na conquista: Mozer, que acabou cortado da Seleção já no México por problemas de joelho, atuou em apenas dois jogos após retornar. Zico entrou em campo outras três vezes, antes de sofrer nova lesão logo no início do Fla-Flu da Taça Rio – que o tiraria dos gramados até junho do ano seguinte. E Sócrates voltou lesionado da Copa e só vestiu de novo a camisa rubro-negra em novembro. A exceção foi Leandro, que desistiu de ir ao Mundial no dia do embarque e não apenas esteve presente no restante da campanha do título estadual como envergou a braçadeira de capitão.

28 de setembro de 1986 – Considerado o sucessor de Junior, o promissor lateral-esquerdo Adalberto se torna mais uma vítima rubro-negra da violência nos gramados: fratura a tíbia direita ao levar uma entrada covarde por trás do ponta-direita Porto, do Botafogo-PB, na vitória do Flamengo por 2 a 0 em Caio Martins pelo Campeonato Brasileiro. O jovem defensor de 22 anos fica afastado dos gramados por quase seis meses. Como um tapa-buraco, o clube vai buscar no Paulista de Jundiaí o experiente Aírton, ex-São Paulo, America e Vasco. Mas a lesão do garoto prata da casa terá complicações futuras.

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Fevereiro e março de 1987 – O Brasileiro de 1986 se estende até o início do ano seguinte, e o Fla, muito desfalcado, acaba eliminado nas oitavas de final pelo Atlético-MG. Ao fim da competição, o clube confirma a chegada de seu grande reforço para a nova temporada: o ponta Renato Gaúcho, do Grêmio. Por outro lado, perde Sócrates, que, desmotivado, decide largar a bola logo no início do Estadual e se dedicar à medicina. No fim de março, a boa notícia é o retorno gradual de Adalberto após a fratura. Mas o técnico Sebastião Lazaroni é demitido, com Carlinhos de novo assumindo o posto interinamente.

22 de abril de 1987 – De técnico novo, Antônio Lopes, o Flamengo estreia na Taça Rio vencendo o Mesquita por 3 a 0 em Caio Martins diante de um público pequeno (1.828 pagantes) e com uma equipe repleta de garotos, tendo somente Adílio do grupo dos titulares em Tóquio.

Junho de 1987 – Zico retorna aos gramados no Fla-Flu da Taça Rio disputado no dia 21, um domingo de manhã, também em Caio Martins. O Galinho marca de pênalti o gol rubro-negro no empate em 1 a 1. Cinco dias depois, Mozer faz sua última partida pelo Flamengo num amistoso contra a seleção de Petrolina, em Pernambuco, que termina com o mesmo placar. No dia 28, é anunciada sua venda ao Benfica por US$ 500 mil (cerca de Cz$ 21,6 milhões ao câmbio da época), dinheiro que alivia os combalidos cofres do clube.

Julho de 1987 – Dois anos e meio após ter sido negociado com o Náutico, o centroavante Nunes retorna à Gávea, alugando seu passe até o fim do ano. No período em que esteve fora do clube, o atacante de 33 anos defendeu, além do Timbu, o Santos (no Paulistão de 1985), o Atlético-MG (onde se sagrou o artilheiro do Campeonato Mineiro em 1986) e o Boavista, de Portugal.

7 de setembro de 1987 – Num amistoso contra o Bahia na Fonte Nova, que termina em 0 a 0, Adalberto volta a se lesionar, desta vez sozinho, iniciando novo calvário que praticamente põe fim à sua carreira. Em seu lugar, durante a partida, entra um garoto de 17 anos da base rubro-negra chamado Leonardo.

9 de setembro de 1987 – Mais um campeão do mundo deixa a Gávea: dispensado pelo técnico Antônio Lopes, Adílio encerra um vínculo com o clube que vinha desde os infantis e já durava 23 anos. Sem contrato desde junho, quando entrara em campo pela última vez com a camisa rubro-negra (na vitória de 1 a 0 sobre a seleção da Argélia em Argel), o meia vinha tentando sem sucesso a renovação com os dirigentes. Descartado, Adílio assina então com o Coritiba para disputar o novo Campeonato Brasileiro, a Copa União.

13 de dezembro de 1987 – No dia em que a conquista do Mundial completa seis anos, o Flamengo vence o Internacional por 1 a 0 no Maracanã com gol de Bebeto e levanta seu quarto título brasileiro. A equipe titular – Zé Carlos; Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Aílton e Zico; Renato Gaúcho, Bebeto e Zinho – reúne só três remanescentes do time derrotou o Liverpool (Leandro, Andrade e Zico). Também no elenco estão Nunes (que participou das oito partidas do primeiro turno) e Cantarele (reserva em Tóquio e agora). O técnico é Carlinhos, que voltou ao comando do time em meados de setembro com a demissão de Antônio Lopes, logo após a estreia do time no campeonato.

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Primeiro semestre de 1988 – Enquanto Nunes deixa mais uma vez o Flamengo para disputar o Estadual pelo Volta Redonda, Leandro e especialmente Andrade seguem como nomes constantes no time titular durante a competição. Mas uma tesoura voadora de Mauro Galvão no clássico diante do Botafogo pela Taça Guanabara, em 6 de março, tira Zico de ação por mais de dois meses.

Pouco depois de retornar, o Galinho embarca em uma missão: juntamente com Leandro, Edinho, Cantarele e um bando de garotos rubro-negros, retorna a Tóquio com um “expressinho” do Fla para disputar a Copa Kirin. E dá certo: a taça é conquistada com vitória de 1 a 0 sobre o Bayer Leverkusen – time do ex-rubro-negro Tita – no Estádio Olímpico da capital japonesa no dia 7 de junho. Poucos dias depois, no entanto, o time principal perde o Estadual para o Vasco, o que leva à demissão de Carlinhos.

5 de agosto de 1988 – É a vez de Andrade fazer sua última partida como jogador do Flamengo, na vitória de 1 a 0 sobre o Ajax pelo Torneio de Amsterdã. Na véspera, o volante já havia acertado sua contratação pela Roma, clube com quem o Flamengo já havia negociado Renato Gaúcho pouco depois do encerramento do Estadual.

Setembro de 1988 – A derrota para o Vasco por 1 a 0 na abertura do Brasileiro, dia 4, é a última partida de Leandro no ano. Zico, que se irrita com o técnico Candinho ao ser substituído, também para por pouco mais de um mês devido a persistentes problemas físicos. Diante disso, o jogo contra o America, três dias depois, é o primeiro válido por uma competição oficial em que o Fla entra em campo sem qualquer remanescente da decisão do Mundial Interclubes desde que havia conquistado o título diante do Liverpool há quase sete anos. A escalação do confronto com os rubros – vencido por 2 a 1 – traz Cantarele; Aílton, Zé Carlos II, Aldair e Leonardo; Delacir, Paulo Martins (Cacaio) e Luvanor; Renato Carioca (Alcindo), Luís Carlos e Zinho.

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1989 – A geração de ouro aos poucos vai dizendo adeus: Leandro atua em apenas quatro partidas durante o ano todo – a primeira delas em só julho. Aborrecido com as críticas após ter sofrido 12 gols em três jogos seguidos pela Copa do Brasil contra Corinthians e Grêmio, Cantarele rescinde o contrato no fim de agosto e encaminha a aposentadoria. Zico também vive seu derradeiro ano no clube, fazendo seu último jogo oficial no Fla-Flu do Brasileiro em Juiz de Fora, que termina em goleada rubro-negra por 5 a 0 no dia 2 de dezembro.

A exceção é Junior, que reata seu vínculo com o Flamengo ao retornar do futebol italiano após cinco anos. O contrato, que prevê inicialmente o aluguel do passe por um ano, é acertado no dia 17 de julho, mesma data em que o agora meio-campo obtém a liberação por parte do Pescara, seu último clube na Itália.

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1990 – Zico promove, em 6 de fevereiro, uma partida festiva entre o Flamengo e uma seleção de astros internacionais para marcar sua retirada (até ali) definitiva dos gramados. Leandro, que se recupera fisicamente de maneira surpreendente por um curto tempo e tem sequência de jogos durante a Taça Guanabara, faz seu último jogo oficial pelo Fla em 7 de março, contra o Bangu em Moça Bonita, mas sua retirada é mais discreta.

Até mesmo Junior realiza em Pescara, na Itália, o que anuncia como seu jogo de despedida, reeditando o Brasil x Itália da Copa de 1982 com veteranos de ambos os lados – desta vez, os brasileiros vencem por 9 a 1. Porém, o meia é dissuadido da aposentadoria, renova o contrato e segue jogando.

Já no dia 10 de setembro é a vez do jogo de despedida de Nunes entre um time do Flamengo que mescla jovens do elenco atual com veteranos em atividade (como Andrade e Tita, então no Vasco) e até jogadores há muito aposentados (como Manguito, Rodrigues Neto e Caio Cambalhota) e uma seleção carioca. A partida realizada em Caio Martins termina com vitória rubro-negra por 4 a 2.

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19 de agosto de 1993 – O fim de uma era: após vencer a Copa do Brasil (1990), o Estadual (1991) e o Brasileiro (1992) em seu retorno ao Flamengo, Junior entra em campo pela última vez vestindo o Manto Sagrado muito longe do Maracanã: o Torneio de Milão, triangular de jogos de apenas 45 minutos reunindo ainda Internazionale e Zaragoza, é o derradeiro palco do Maestro.

Antes, em 5 de junho, Junior já havia feito seu último jogo pelo Flamengo em competições oficiais, na vitória por 3 a 0 sobre o São Cristóvão em Moça Bonita, na despedida do time do Estadual daquele ano. Mas em agosto, já aos 39 anos completos, o Vovô Garoto ainda participa de uma extensa excursão rubro-negra pela Europa e Norte da África.

Na despedida de Junior, o Flamengo encerra um capítulo de sua história.