Dequinha, capitão do Flamengo, cumprimenta o do Corinthians antes do pontapé inicial da goleada rubro-negra por 5×1 no Pacaembu, em abril de 1959. (Foto: acervo Última Hora)
Um palco histórico do futebol brasileiro completou 75 anos de inauguração nesta segunda-feira: o Estádio Paulo Machado de Carvalho, conhecido como Pacaembu, localizado no bairro deste mesmo nome em São Paulo, capital. Assim como em muitos grandes campos do Brasil, o Flamengo disputou partidas históricas no gramado da aniversariante praça de esportes. E o Flamengo Alternativo relembra alguns destes momentos.
1. O PRIMEIRO JOGO
São Paulo 0x2 Flamengo, amistoso, 14 de maio de 1940
Foi na condição de atual campeão carioca (de 1939) que o Flamengo pisou pela primeira vez no gramado do Pacaembu, pouco mais de duas semanas depois da inauguração oficial. Convidado pelo São Paulo para um amistoso, que valeria a Taça Royal, o time entrou em campo sem o grande zagueiro Domingos da Guia, mas com um ataque arrasador: Valido, o então iniciante Zizinho, Leônidas, o argentino Castillo (que estreava naquela noite, faria muitos gols em sua curta passagem pela Gávea e faleceria estupidamente dali a alguns meses) e o ponta-esquerda Jarbas, o Flecha Negra.
Os gols rubro-negros, um em cada tempo, vieram com Leônidas, aos 28 da etapa inicial, e Castillo, logo no primeiro minuto da etapa final. No primeiro, Valido escapou de Orozimbo, desceu rápido pela direita e centrou rasteiro. O zagueiro tricolor Iracino errou no corte e a bola sobrou para o Diamante Negro abrir a contagem. No segundo, Zizinho começava a mostrar todo o seu futebol exuberante com uma inversão de jogo magnífica para Castillo bater forte, vencendo o arqueiro do São Paulo.
Mas a atuação mais espetacular da partida – que registrou a expressiva renda de 100 contos de réis – foi a do goleiro rubro-negro Walter Goulart, titular da Seleção Brasileira na Copa de 1938, parando o ataque sãopaulino, que pressionou durante todo o jogo, e ainda contando com a sorte no único lance em que deu rebote: o zagueiro Newton Canegal salvou em cima da linha o chute do ponta Bazzone. Três dias depois, o Fla voltaria a vencer o São Paulo pelo mesmo placar em seu segundo jogo na nova praça de esportes.
2. A MAIOR GOLEADA
Portuguesa 1×9 Flamengo, Torneio Rio-São Paulo, 4 de setembro de 1940
Leônidas, que se transferiria para o futebol bandeirante dali a um ano e meio, teve atuação de gala neste verdadeiro massacre pelo Torneio Rio-São Paulo. Marcou nada menos que seis vezes, três em cada tempo, com Castillo (dois) e Jarbas completando o marcador. Farah, de pênalti após toque de mão de Domingos na área, descontou para a Lusa.
O Rio-São Paulo de 1940 contou com a participação de nove clubes (cinco cariocas e quatro paulistas) e seria disputado em turno e returno. Mas ao final do primeiro turno, quando Flamengo e Fluminense dividiam a liderança após todos os clubes terem feito suas oito partidas, os paulistas abandonaram a disputa, provocando o cancelamento do restante do certame.
3. O CAMPEÃO CONTRA O TRIO DE FERRO
Palmeiras 1×2 Flamengo, amistoso, 18 de outubro de 1942
Corinthians 2×4 Flamengo, amistoso, 22 de outubro de 1942
São Paulo 3×3 Flamengo, amistoso, 28 de outubro de 1942
Assim como na primeira visita, foi como recém-coroado campeão carioca que o Flamengo voltou ao Pacaembu em outubro de 1942 para exibir seu jogo ao público paulista em amistosos contra o chamado Trio de Ferro da capital bandeirante. No início do mesmo ano, o Fla já havia estado na cidade disputando, ao lado do Fluminense e contra os três grandes paulistanos o Torneio Quinela de Ouro. Não conquistou o título, mas terminou a competição invicto, derrotando o São Paulo e empatando as três partidas (inclusive o único Fla-Flu disputado lá).
O primeiro desafio foi um duelo de campeões contra o Palmeiras, recém-rebatizado depois de um curto período como Palestra de São Paulo no lugar do antigo Palestra Itália. O Alviverde abriu o placar com o argentino Villadoniga, logo aos oito minutos. Mas a forte defesa palmeirense (menos de um gol sofrido por jogo no Campeonato Paulista) não pôde conter a virada rubro-negra, com gols geniais de Vevé e Pirillo.
O Jornal dos Sports deu grande destaque à vitória sobre o Corinthians.
Depois de vencer a melhor defesa, era a hora de encarar – sob a garoa paulistana – o melhor ataque: o do vice-campeão Corinthians, que saiu logo marcando aos 30 segundos de jogo, com Eduardinho. Aos 18 minutos, porém, Vevé dribla Jango e passa ao meia-esquerda paranaense Sardinha (que havia passado pelo Botafogo, e estava no Flamengo em período de testes, substituindo Perácio) para marcar o gol de empate.
Daí para a frente, o Flamengo deslanchou: Pirillo cobrou pênalti após toque de mão de Chico Preto na área e virou o placar; Vevé recebeu de Pirillo e marcou o terceiro em chute forte; e o mesmo Pirillo, apanhando rebote do goleiro Ratto, ampliou para 4×1, antes de Jerônymo descontar. Tudo no primeiro tempo. Na etapa final, o Flamengo apenas administrou o resultado antes de ser demoradamente aplaudido pelo público.
O empate com o São Paulo e o saldo geral da campanha em solo paulista também mereceram destaque no JS.
O terceiro amistoso, também disputado sob chuva, tinha um grande duelo anunciado: Domingos versus Leônidas, agora no São Paulo. E começou bem semelhante ao jogo contra o Corinthians, só que com os papeis invertidos: Sardinha abriu o placar para o Fla com 30 segundos; aos cinco minutos o árbitro viu pênalti num choque de Domingos com Pardal e Leônidas empatou na cobrança; e Luisinho virou e ampliou para o São Paulo.
Só que na etapa final veio a reação rubro-negra, comandada por Domingos. Primeiro ele trava um chute de Leônidas no que seria certamente o quarto gol sãopaulino. Depois, dribla, dentro da própria área do Fla, Leônidas, Waldemar e Noronha, antes de passar a bola para Vevé ligar o contra-ataque que vai culminar no gol de Pirillo. Aos 32, Jayme de Almeida lança para a área tricolor, Florindo não consegue cortar e novamente Pirillo, o substituto do Diamante Negro na Gávea, aparece para igualar o placar.
A virada quase chega em chute forte de Zizinho desviado por Vevé que raspa a trave, mas ali, àquela altura, o empate já era o suficiente para confirmar as ótimas impressões deixadas pelo Fla na capital paulista, onde não perdeu nenhuma vez naquele ano.
4. VIRADA ÉPICA SOBRE PELÉ
Santos 2×3 Flamengo, Torneio Rio-São Paulo, 9 de março de 1958
Time que bateu o Santos de virada, em foto do jornal Última Hora. Em pé: Pavão, Joubert, Fernando, Jadir, Dequinha e Jordan; agachados: Joel, Moacir, Henrique, Dida e Zagalo.
Três meses antes do primeiro título mundial do Brasil na Suécia, um duelo de gigantes, de monstros de primeira grandeza, pelo Rio-São Paulo. Na linha de ataque do Santos, Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe. Na do Flamengo, Joel, Moacir, Henrique, Dida e Zagalo. Sem contar a garra de Zito e a classe de Dequinha controlando o meio-campo de ambas as equipes. Mas quem decidiu a parada a favor do time Rubro-Negro foram as surpresas que vieram do banco de reservas, das feitiçarias do técnico Fleitas Solich.
O Flamengo defende a liderança invicta do torneio, mas o que se desenha no começo é um massacre santista. Pepe abre o placar aos 13 minutos, depois de Dorval acertar o travessão. E o menino Pelé amplia aos 25. O Santos domina amplamente e o Flamengo parece entregue, até os minutos finais do primeiro tempo.
É quando o time rubro-negro decide que assim não pode ser e começa a trocar passes. A bola fica com Moacir, e o Canivete, famoso pelos dribles curtos e cortes secos nos adversários, centra para a cabeçada precisa de Henrique. Logo após o gol rubro-negro, o árbitro Eunápio de Queirós encerra o primeiro tempo, que já termina diferente de como começou.
O Flamengo volta outro do intervalo. Mordendo, abafando, pressionando o Peixe. O pequenino e ousado Babá substitui Zagalo na ponta-esquerda. E Dida resolve dar uma resposta a Pelé. Aos dez minutos, o 10 rubro-negro se desloca, infiltra-se na zaga santista e empata a partida. O jogo fica aberto, com chances para ambos os lados.
Mas quando Moacir começa a levar vantagem no duelo com Zito, os sinais já estão no ar. Entra Duca no lugar de Dida no Fla, e o jogo prossegue com grandes jogadas de parte a parte. Até que, aos 44 e meio, Babá ganha na raça uma jogada pela ponta esquerda e passa a Duca. O substituto de Dida dispara um petardo, que morre nas redes de Veludo.
Uma virada dramática, épica, traduzida nas palavras do potiguar Dequinha, capitão rubro-negro, após o jogo: “Poucos triunfos em minha vida esportiva me emocionaram tanto. A nossa arrancada no segundo tempo foi impressionante e a resistência do Santos um capítulo para a história deste jogo. Foi preciso pernas e sangue, e o Flamengo as teve durante os noventa minutos”.
5. BAILE NO TIMÃO
Corinthians 1×5 Flamengo, Torneio Rio-São Paulo, 19 de abril de 1959
Dos aplausos respeitosos da década de 40 às vaias intimidadoras nos anos seguintes. O Flamengo encarou um ambiente um tanto hostil nesta partida contra o Corinthians pelo Rio-São Paulo de 1959, mas transformou a recepção em motivação para golear. O domínio foi completo e a grande figura da partida foi o centroavante Henrique, autor de três gols.
Na primeira etapa, apenas um gol, do próprio Henrique, embora os rubro-negros tenham desperdiçado outras chances. Na etapa final, o Corinthians entrou com mais vontade, mas logo a categoria de Dequinha no meio-campo e o segundo gol, de Luís Carlos, esfriaram o ímpeto ofensivo dos alvinegros, que, irritados, partiram para a violência. Olavo chegou a rasgar o meião de Henrique após uma entrada mais forte. Alfredo acertou Dida, que teve de deixar o campo.
Aos 33 veio o terceiro gol, novamente com Henrique, tocando por baixo de Gilmar. Aos 43, Paulo descontou para o Corinthians e parecia que este seria o resultado final. Mas o Flamengo quis golear, na melhor maneira de revidar as agressões corintianas. Na saída de bola, enquanto os torcedores ainda aplaudiam o gol de honra, Henrique entrou pelo meio da zaga e fez mais um para o Fla. E nos segundos que restaram antes do apito final, Roberto, o substituto de Dida, aproveitou-se do pânico na defesa do Timão para fazer o quinto. Podem vaiar à vontade agora.
Sob o céu de São Paulo, o time rubro-negro que goleou o Corinthians por 5×1. Em pé: Joubert, Fernando, Milton Copolillo, Jadir, Dequinha e Jordan; agachados: Luís Carlos, Moacir, Henrique, Dida e Babá. (Foto: acervo Última Hora)
6. A GRANDE REVANCHE
Santos 1×5 Flamengo, Torneio Rio-São Paulo, 19 de abril de 1961
Exatos dois anos depois de golear o Corinthians, o Flamengo voltou ao Pacaembu para aplicar o mesmo elástico resultado ao Santos. Mas desta vez a motivação era diferente: a forra da goleada impiedosa de 1×7 sofrida diante do Peixe em atuação extraterrena de Pelé em pleno Maracanã na fase de classificação daquele Rio-São Paulo, só que agora na capital paulista, valendo pelo turno final da competição.
Pelé desta vez, porém, estava ausente, substituído pelo jovem Nenê (meia que depois faria carreira no futebol italiano, jogando na Juventus e sendo campeão no Cagliari). Mas no resto do time santista, como não podia deixar de ser na época, cracaços de Seleção Brasileira formavam um esquadrão favorito a qualquer título que disputasse: Mauro na zaga, Lima no meio (Zito era outra ausência), Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe na frente, além de jogadores experientes do quilate de Tite e Sormani no banco.
O Flamengo atravessava um processo de renovação comandado por Fleitas Solich e foi se acertando ao longo da competição. Alguns nomes históricos do clube e já estabelecidos no coração da torcida continuavam, como Joel, Henrique, Dida, Jadir e Jordan. E ainda havia uma nova safra de talentos em ebulição na Gávea, como o volante Carlinhos Violino, o ponta-esquerda Germano e o meia-armador Gerson.
E seria Gerson, juntamente com Dida, o grande nome da goleada rubro-negra. Aos 18 minutos, o Canhota abriu o placar. Depois foi a vez do 10 alagoano marcar num bonito sem-pulo. Aos 44, Gerson driblou dois, entrou na área e fuzilou o goleiro Lalá. Três a zero no intervalo e uma infinidade de outras chances desperdiçadas. Na etapa final, Dida, aos três, e Gerson, num violento chute que furou a rede aos 21, marcaram o quarto e o quinto. E Coutinho, no último minuto, fez o de honra para os santistas.
A vingança só não foi completa, na mesma moeda, porque o árbitro Alberto da Gama Malcher deixou de apitar dois pênaltis claros para o Fla na etapa final: um em entrada forte de Mauro em Gerson e outro de Formiga em Dida. Mas não faz mal. Foi um resultado incontestavelmente expressivo e que deixou o Flamengo com a conquista daquele Rio-São Paulo bem encaminhada.
7. DAS IMPROBABILIDADES…
Palmeiras 1×2 Flamengo, Torneio Rio-São Paulo, 25 de abril de 1965
No papel, não havia nem como comparar. De um lado a Academia palmeirense, líder invicta e disparada daquele Rio-São Paulo, um clube não só acostumado a fornecer craques à Seleção Brasileira como também chegaria a ser o escrete canarinho, representando integralmente o Brasil em amistoso contra o Uruguai, na inauguração do Mineirão, dali a alguns meses. Estavam todos lá no Pacaembu: Valdir de Moraes, Djalma Santos, Djalma Dias, Dudu, Ademir da Guia, Germano (ex-rubro-negro), Tupãzinho, Rinaldo…
Do outro o Flamengo. Um típico Flamengo do meio pro fim dos anos 60, com alguns nomes históricos do clube segurando as pontas num elenco formado, em sua maioria, por promessas dos juvenis (um garoto chamado Fio estreou entre os titulares naquela tarde, na ponta-direita) e jogadores de qualidade questionável trazidos de clubes pequenos, quase todos mais pródigos pela raça do que pela técnica, alçados a ídolos instantâneos pela geral do Maracanã e prestes a serem rapidamente devorados por ela. Era um Flamengo irregular e imprevisível.
E foi mesmo o imprevisível quem deu o ar da graça no Pacaembu naquela tarde, a partir do segundo tempo. No primeiro, o Palmeiras fez 1×0 com o futuro rubro-negro Ademar “Pantera” aos 26 minutos. O prejuízo do Flamengo foi maior no gol anulado aos 20 minutos e no pênalti claro de Geraldo Scotto em Amauri não marcado por Armando Marques.
Na volta do intervalo, Carlinhos empatou logo aos dois minutos, e o Palmeiras recuou, dando campo ao Flamengo. Carlinhos e Fefeu – não Dudu e Ademir da Guia – ditavam o ritmo da partida e o Flamengo criava seguidas chances de virar o marcador. Paulo Alves chegou a acertar a trave de Valdir. Até que aos 42 Amauri apanhou um rebote do goleiro e tocou para as redes, sacramentando a vitória.
Em todo aquele longo Rio-São Paulo de 1965, disputado em turno e returno e amplamente dominado pelo Palmeiras, o Flamengo seria o único time a derrotar a Academia. E, mais expressivo ainda, dentro do Pacaembu.
8. O SHOW DO MAESTRO
Corinthians 1×3 Flamengo, Campeonato Brasileiro, 12 de abril de 1992
O Corinthians é, de longe e ao mesmo tempo, o grande paulista o qual o Flamengo mais enfrentou e mais venceu (em números absolutos e proporcionais) no Pacaembu. Foram 14 vitórias em 47 partidas. Momentos memoráveis, portanto, não faltam, o que tornou escolher os jogos lembrados aqui uma tarefa difícil.
Ficaram de fora, por exemplo, os 4×0 do Rio-São Paulo de 1957; a vitória que valeu a alegria fugaz da liderança no interrompido turno final da Taça Morumbi em 1957; o raro triunfo na campanha fraca do Robertão de 1968; o jogo do chapéu-quase-gol de Andrade em 1987; a tumultuada vitória pelo Torneio do Povo de 1972; a mais tumultuada ainda vitória pela Libertadores de 1991, no notório jogo das garrafadas…
Acabamos preferindo citar jogos marcantes da década de 90, por um motivo singular. Época vitoriosa para os corinthianos e em muitas vezes esquecível para os rubro-negros, o período entre 1991 e 2000 registra um dado bem irônico: foi a ‘era de ouro’ do Flamengo em seus confrontos contra o Timão no Pacaembu. Em oito partidas, o Fla venceu nada menos que cinco.
Esta de abril de 1992, que recolocou o Flamengo nos trilhos na primeira fase do Brasileiro daquele ano (o qual venceria), teve um grande maestro. Na verdade, o próprio Maestro, Junior. A dois meses de completar 38 anos, o meia cumpriu atuação irretocável, de botar no bolso o maior trunfo alvinegro, o camisa 10 Neto. Cobrou magistralmente a falta com a qual o Fla abriu o placar, iniciou a jogada do terceiro gol, de Fabinho (o segundo veio em chute de Marquinhos de fora da área após triangulação pela esquerda com Zinho e Fabinho) e fez várias jogadas de efeito.
No segundo tempo, o Fla administrou a vantagem, mas teve ainda outras oportunidades, salvas pelo goleiro Ronaldo ou pela trave. Ezequiel descontou no fim, mas o dono da bola naquela tarde foi mesmo o Vovô Garoto.
9. DIA DE MANDANTE
Flamengo 2×1 Nacional-URU, Supercopa, 4 de novembro de 1993
Não foi a primeira vez em que o Flamengo mandou uma partida no Pacaembu. No ano anterior, com o Maracanã em obras após a tragédia na final do Brasileiro, o Rubro-Negro já havia enfrentado o Racing argentino pela mesma Supercopa no estádio paulistano (empate em 3×3).
O resultado ruim na primeira ocasião não intimidou os dirigentes do clube no ano seguinte, na hora de decidir um novo local para a partida contra o Nacional de Montevidéu, já que o Maracanã estaria novamente interditado, agora em virtude preparativos para o show da cantora pop norte-americana Madonna.
E desta vez deu certo. O Flamengo abriu 2×0 no primeiro tempo, com gols de Casagrande (de cabeça após cruzamento de Marquinhos) e Renato Gaúcho (aproveitando uma linha de impedimento mal feita na zaga uruguaia), levou o gol uruguaio no fim, mas garantiu a vitória. Na volta, no Uruguai, uma vitória mais tranquila por 3×0 valeu a vaga na decisão.
10. SHOW DO BAIXINHO
Corinthians 0x3 Flamengo, Torneio Rio-São Paulo, 7 de fevereiro de 1999
Corinthians 1×2 Flamengo, Campeonato Brasileiro, 1º de setembro de 1999
Uma das vítimas preferidas de Romário ao longo de sua carreira, o time do Parque São Jorge também sofreu com o Baixinho quando ele vestia a camisa 11 rubro-negra. Ainda que seja possível relativizar o sucesso da passagem do atacante em suas cinco temporadas pela Gávea (entre idas e vindas), contra o Alvinegro paulista, especificamente, os números são favoráveis a ele: nove gols em oito jogos.
O primeiro dos dois confrontos é sempre lembrado por um lance genial: o famoso “elástico” do atacante no volante corinthiano Amaral, que perdeu completamente o rumo de casa, antes do toque sutil na finalização sobre o goleiro Nei. O lance aconteceu logo aos seis minutos de jogo, quando o Flamengo já vencia por 1×0 – aos quatro, Beto abriu o placar, após a bola de Leandro Machado bater no travessão e quicar sobre a linha.
Com time completo, mas visivelmente fora de forma, o Corinthians apenas assistiu ao Flamengo massacrar em campo – fez três e ainda teve dois de Leandro Machado anulados. O golpe de misericórdia veio no começo do segundo tempo, com o terceiro gol rubro-negro (e o segundo de Romário). Torcedores invadiram o campo e depois do jogo um deles agrediu o atacante, que revidou. Mas o troco maior viria dentro de campo, no reencontro das duas equipes.
Era 1º de setembro de 1999, aniversário do clube paulista, que agora contava com elenco mais estelar ainda (Dida, Rincón, Ricardinho e Luizão eram algumas das novidades em relação ao jogo de fevereiro). Para se ter uma ideia, o Corinthians tinha vencido todos os sete jogos que havia feito até então naquele Brasileiro, enquanto o Flamengo, embora em boa colocação, vinha de derrota para o Grêmio por 3×4 em pleno Maracanã.
O roteiro a seguir parece uma repetição de outros descritos neste post: o Flamengo enfrenta uma equipe paulista muito superior tecnicamente, sai atrás no placar, mas reage, passa à frente e impõe seu jogo. Foi exatamente assim também desta vez. Aos cinco minutos, Luiz Alberto perdeu a bola para Ricardinho, e o meia lançou Edilson para tocar para Luizão abrir o placar.
A virada rubro-negra ainda no primeiro tempo teve dois grandes artífices: Beto e Romário. O primeiro com passes, o segundo com finalizações, como tinha que ser. Aos 28 e aos 34 minutos, o meia deixou o Baixinho na cara do gol e aí era só correr pro abraço. Na etapa final, o Corinthians teve chance de empatar e não ter a festa de aniversário estragada, mas Clemer se redimiu do pênalti que cometeu em Edílson ao defender firme a cobrança de Luizão.
O Timão seria campeão brasileiro naquele ano, mas caberia ao Flamengo ser o primeiro time a carimbar a faixa, estragar o dia especial e viver mais um grande momento no Pacaembu.